domingo, 18 de janeiro de 2009

Uma Mulher Quase Imperfeita

Branca, aliás, vermelha, as espinhas sempre esconderam a verdadeira cor do rosto de Solange, agora moça. Desde os doze anos Solange não sabe o que é ser feliz, ela aprendeu muito com a vida, vida dura, vida injusta. Não existia pessoa mais azarada que Sol, assim que seus amigos a chamam; espere Solange não tem amigos, nunca os teve.
Moça tímida, cabelos dourados e crespos, não se sabe a cor de seus olhos, a menina-moça vive de cabeça baixa e olhos espremidos. Órfã, Solange vive com os avós, seu avô um bêbado insuportável e sua avó doente. Sol estava na idade de trabalhar, mas nunca havia conseguido um emprego, quem daria emprego para alguém assim? Assim como? Magra, fraca, pequena, triste.
Solange era uma pessoa muito rancorosa e infantil, talvez por isso ninguém gostasse dela, sempre menina. Sol não era uma daquelas pessoas tristes dignas de pena, era mesmo chata.
Garota que nunca tinha tido um amor, sonhava com romances e fazia novelas em sua cabeça. Difícil mesmo foi a escola, todos em sua classe lhe tiravam sarro da cara, Sol estudou em nove escolas diferentes, triste não? Mas nem isso fazia Solange ser uma pessoa melhor, nunca amadurecia.
Solange certa vez andava pela praça, quando tropeçou e caiu, na mesma hora uma mulher lhe ofereceu ajuda e ela brigou com a mulher dizendo que não era incapaz de se levantar sozinha. Alguns metros a frente tornou tropeçar e cair, quebrando uma de suas pernas, tornando-se incapaz de se levantar sozinha, pura ironia do destino. A mulher que havia lhe oferecido ajuda anteriormente lhe ofereceu ajuda novamente, agora com tom de ironia. Solange deu o braço a torcer, aceitou a ajuda da mulher e foi levada para um hospital, onde teve que engessar a perna.
Passaram-se alguns dias e enfim chegou a hora de Sol ir ao hospital para tirar o gesso, já estava tudo pronto, Solange pegou o pé do sapato direito, calçou e colocou o pé esquerdo na bolsa, iria precisar dele após tirar o gesso.
No hospital estava uma confusão imensa, havia acontecido uma batida com dez carros a poucos metros dali. Os médicos estavam loucos, chegavam feridos por todos os lados. Foi neste momento que Solange olhou para o lado e viu um garotinho deitado em uma maca, segurando firme nas mãos de sua mãe, ele pedia para que ela não o deixasse morrer; a mulher estava em prantos. O menino fazia promessas a sua mãe, dizia que ia ser um menino bonzinho; a mãe parecia estar morrendo no lugar do filho.
Em anos, a cena do menino pedindo por sua vida foi a primeira coisa que tocou o coração de Solange. Recuperada do choque, ela pensou em encarar a vida de outro jeito, a olharia com bons olhos, olhos verdes que agora apareciam no rosto de Sol.
O tempo foi se passando e a menina-moça foi se tornando mulher, amadurecendo, seu corpo tornava-se de mulher, as espinhas foram desaparecendo. Quem diria que uma cena mudaria por completo a vida de Sol?
A beleza aos poucos foi encontrando seu lugar no rosto e no corpo de Solange, que conseguira um emprego e pôde pagar tratamentos de saúde para sua avó e internar seu avô em uma clinica de desintoxicação. Ela não era mais criança, era Solange, agora mulher.


Paulo Cilas.